Diário de um Magro

por  CARLOS ALBERTO

De Leon a Hospital de Órbigo - 36 km

A Santiago: 275 km


Domingo, 30 de Setembro de 2001

O Guia El Pais previa a etapa de Leon até Villar de Masarife. A saída de Leon para o peregrino é muito mal sinalizada, bem ao contrário da chegada. Tateando e perguntando, acabei seguindo o caminho até o Museu de Leon, ao lado do qual funciona um hotel de luxo. Era por volta das 8h, ainda escuro e muito nublado, com muitos turistas japoneses fotografando e filmando tudo o que podiam no Largo de São Marcos, onde há tocante monumento ao peregrino, junto ao qual pedi para um ciclista fotografar-me. Por coincidência, era o peregrino ciclista que roncava ao meu lado na noite anterior. Muito gentil o rapaz, clicou minha máquina e pediu que também fizesse o mesmo com a dele.

Em simpático estabelecimento defronte à Praça São Marcos, Café dos Peregrinos, tomei café com "tostadas" e segui em frente. A saída de Leon, como dito, é mal sinalizada, como acontece em todas as cidades maiores do caminho. Caminhei procurando retirar-me da cidade, passei pela área industrial, e quando vi já estava em outra cidade, Virgen del Camino, segundo o guia, que, na verdade, é arrabalde de Leon.

Na seqüência, peguei a alternativa do caminho pela montanha para Villar de Mazarife, em detrimento do que margeia a carreteira. Passei por Fresnos del Camino, Oncina de Valdoncinas, Chozos de Abajo, onde descansei cerca de uma hora, com direito a tirar as botas, tomei um "vazo de vino" com pão e queijo. Refeito, toquei firme, passei quase direto por Villar de Mazarife, onde apenas fiz breve descanso. A estrada depois de Villar de Mazarife é um asfalto em reta que parece interminável. Por mais que o peregrino se distancie da cidade, Villar nunca desaparece da vista quando se olha para trás, como a castigar quem a desprezou.

Havia decidido não ficar naquela cidade e adiantar a etapa seguinte em quase 15 Km, ficando em Hospital de Órbigo, para que a chegada a Astorga fosse mais tranqüila e essa importante cidade pudesse ser bem visitada. Foi a mesma estratégia para chegar em Leon, aprendizado da etapa de Burgos, onde cheguei tão esgotado, praticamente à noite, sem condições de conhecer muita coisa.

Pouco antes de Hospital de Órbigo, estava descansando à beira do caminho, quando fui alcançado por um americano do Texas, Miguel, a quem já tinha visto em Fromista e Carrion de los Condes, acompanhado da mulher. Agora estava sozinho, o que leva a crer que sua mulher venceu etapas de ônibus ou táxi. Lamentei não falar melhor o inglês. Apesar da camaradagem estabelecida, a comunicação ficou prejudicada, porque Miguel também não falava espanhol. Tiramos fotos de histórica ponte ali existente. Miguel preferiu ficar num Hostal e eu dirigi-me ao refúgio da paróquia.

Atualizei minhas anotações no restaurante, após refeição muito boa, regada por um bom vinho. Antes de ir ao restaurante, a rotina de sempre: chegada ao albergue muito cansado, carimbo da credencial, banho, lavagem de roupas, descanso por algum tempo. Tentei ligar para casa, mas não encontrei ninguém. Resolvi ligar para o Felipe, que tinha ido fazer sua boa ação de levar donativos para entidade assistencial. Falei com a Lenise, deixei abraços e beijos e fui jantar.

Terminada a janta e a atualização das anotações, fui direto ao albergue para tratar de dormir e preparar-me para a etapa de amanhã até Astorga, terra de gente valente, capital da Maragateria.

Puente de Órbigo

E tem mais:

E tem muito mais ainda...